A prisão

    Nasci num bosque. Amanhecia quando minha mãe deu-me no bico o primeiro alimento. 

   Fui crescendo devagar e um dia quis ensaiar meu primeiro voo.  Foi um pequeno e lindo passeio pelo arvoredo. 

  Brinquei com as borboletas  e com outros pássaros. Ensaiei, também, o meu primeiro canto. Saiu meio desafinado, mais parecendo um assobio rouco. Depois fiquei pássaro grande e conhecia toda aquela mata. Sozinho eu buscava água fresca no riacho.  

    Meu canto já era cantiga bonita. Seguro de mim, fui conhecer outros lugares. Curioso fui percebendo tudo que parecia de diferente: rios grandes, borboletas coloridas e campos verdinhos.

   Avistei um terreiro limpo e no meio dele uma casinha.  Pensei: “que casinha bonita!” Fui me aproximando e lá dentro a comida amontoava-se em um canto. Pensei outra vez: “que sorte a minha!”  Entrei na casinha e quando comecei a bicar os farelos a porta se fechou e fiquei preso.

     Fiquei assustado e inquieto.   Um menino me pegou com jeito e me passou para outra casinha.

    Fui vivendo preso e ficando triste.

                                                                       Marilene Godinho. Balão azul

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